sábado, 20 de fevereiro de 2016

ARTIGO: BERNIE SANDERS : O FANTASMA QUE ASSOMBRA A MESMICE POLÍTICA DOS EUA

Wellington Duarte
Prof. Doutor - UFRN


Duvido que até a semana passada alguém conhecesse, ou se conhecesse, se impostasse com o nome Bernie Sanders. Até então a mídia sequer o mencionava, pois era mais do que um “azarão” na esdrúxula corrida eleitoral norte-americana, sabe-se lá porque, considerada uma “grande democracia”.
Sanders, um senador de Vermont, do Partido Democrata, começou a assombrar a toda poderosa Hilary Clinton ao fungar no seu cangote nas eleições primárias para o seu partido em Iowa e vence-la recentemente em New Hampshire.
Sanders resolveu, no berço do capitalismo, peitar o capitalismo. Isso por si só já é um feito. Entre os seus dez pontos de campanha quer o controle dos grandes bancos, querendo reeditar a lei antitruste de 1890; quer dividir as grandes corporações financeiras se valendo, vejam só, de uma legislação aprovada, mas não implementada, por Barak Obama em 2010; quer dividir os bancos comerciais e instituições financeiras, como fez Franklin Roosevelt em 1933, para impedir que os bancos entrem no mercado financeiro (a lei foi revogada em 1999 por Bill Clinton); quer uma reforma nas agências de classificação de risco, fonte de prazer da Globo, sendo que Sanders chama essas instituições de “raposas” e sua atual função mais ou menos parecida como a “raposa vigiando o galinheiro”; e quer, para o assombro dos senhores liberais do Partido Democrata, que o Federal Reserve, o banco central deles, passe a ter uma política de valorização do emprego.
Sanders, filho de classe média, é septuagenário que vem recebendo forte apoio das camadas mais jovens dos democratas, e muitos deles admitem que nunca participaram das eleições “pois elas não serviam prá nada” e agora se sentem movidos a alterar o centenário jogo de cartas marcadas da política norte-americana.
Sanders aparece como um contraponto progressista a um reacionário grotesco como Donald Trump, uma caricatura de político, que somado com a ignorância típica dos republicanos da geração Bush ameaça ser o presidente dos EUA. Imaginem só essa figura presidente dos EUA!
Mas Sanders não é uma liderança surgida do nada. Um populista que navega nas ondas dos milhares de norte-americanos entregues à própria sorte pelo seu próprio sistema. Ele tem sido um ativista desde a década de 60, quando presidiu o Congresso da Igualdade Racial e filiado, de 1968 a 1981, no pequeno Partido da União pela Liberdade, que se dizia “socialista não violento”. Em 1990 foi eleito deputado federal por um distrito de Vermont, sendo considerado o primeiro socialista assumido a colocar os pés na Câmara de Representantes dos EUA.
Em 2006 foi eleito senador com o apoio dos democratas e reeleito em 2011, sempre mantendo uma postura progressista nas votações tanto na Câmara como no Senado, quando ficou contra a invasão do Iraque e o Ato Patriótico.
De lá prá cá Sanders tonou-se um “independente”, sempre eleito pelo Partido Democrata, como permite a esculhambada nãa-legislação eleitoral dos EUA e sempre fez campanha contra todo discriminação, mas especialmente depois de 2008 passou a mirar nas desigualdades econômicas e no controle do mercado financeiro sobre a vida das pessoas.
Sanders tem um caminho difícil pela frente pois a máquina do Partido democrata está na mãos dos aliados de Clinton e por ser “socialista” enfrentará a fúria dos conservadores e da mídia de lá, mais educada e esperta do que os marginais daqui, mais muito engajada nas campanhas políticas e o limite ideológico delas é o liberalismo.
Mas o terremoto, que não é fenômeno, Sanders mostra a caducidade do sistema politico norte-americano e como o bipartidarismo encontra-se numa encruzilhada.
Mas teremos que esperar mais um pouco, porém Sanders já é um sopro de vida no cemitério político dos EUA.
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