sábado, 10 de agosto de 2013

A VOZ POÉTICA DE ANTONIO CABRAL FILHO

Enterrem meus sonhos
no Largo do Estácio

sem flores
nem pudores

pois as flores
eu dei pra Tereza
por encher meu mundo de sonhos

e as lágrimas
quem secou foi Cleide
após mostrar-me o caminho das pedras

e os pudores
foram-se todos
após as desilusões com Marta.

Enterrem meus sonhos
no Largo do Estácio,

Mas enterrem-nos sem piedade
assim como quem põe fogo
no lixo junto ao meio-fio
e vai-se sem mais nem menos.

Enterrem meus sonhos
no Largo do Estácio,

Mas por favor não os enterrem
na porta da igreja,
pois daria muito trabalho
ao Divino
e soaria como um acinte aos devotos
e tão logo fossem descobertos
pelas perdidas na vida
seria uma comoção social
com filas de adoradoras
roubando o lugar uma da outra
e camelôs trocando trombadas
com churrasquinho barato,
flâmulas de São Jorge,
figas de Guiné e amendoim,
latinhas de pomada chinesa
para aumentar a excitação,
caixas de baralho erótico,
coleções de Carlos Zéfiro
e, com toda certeza,
o clero não me canonizaria.

Mas enterrem meus sonhos
no Largo do Estácio
pois eles têm que voltar
ao ponto de partida
e começar tudo de novo.
*@*
fonte: por e-mail

Nenhum comentário:

Postar um comentário