domingo, 23 de junho de 2013

A EXPRESSÃO LITERÁRIA NACIONAL - CIRO JOSÉ TAVARES - BRASILIA/DF

Saudemos o dia de São joão da infância distante.

“Onde estavam os que há pouco
dançavam cantavam e riam
ao pé das fogueiras acesas?”

Manuel Bandeira, Profundamente

Cuidadoso guardou no álbum de sua infância,
o olhar posto no espaço e a comovida prece:
Não apareçam nuvens, cheias de relâmpagos e trovões,
venha das dunas brisa leve e deixe o céu escampo
pois queria ver a Via Láctea brilhar intensamente,
como um Cruzeiro de mentira, abrir os braços para o Sul,
pedir às Três Marias adormecer no colo da amada.
Crepitavam fogueiras e crepitavam ao redor do quarteirão,
misturadas ao chiado dos foguetes que rápidos subiam,
seguidos de estrelas brotando das pistolas de artifício.
Seguia a noite acesa pela luz do fogaréu,
quando nos largos terraços da casa grande
rabeca,fole,zabumba esquentaram o ambiente.
Vistosos ternos de zuarte dos rapazes,
belas namoradas, vestidos de chita rendilhados,
danças,murmúrios, promessas, beijos apaixonados,
foi então que tristonho percebeu a criança que era
e que na esteira do tempo nada mais havia,
casas quietas,chamas apagadas pelas invisíveis mãos da noite.
No álbum dos sonhos da infância apenas um registro:
Fugiram as fogueiras levadas por erráticos balões.

Ciro José, in As Fogueiras.

Um comentário:


  1. Tudo issso me faz lembrar momentos comuns a esses e tantos outros, tipo noite de lua cheia ao redor da fogueira, madrinhas, aflhadas e comadres de fogueira, encruzilhando a fogueira e dizendo palavras próprias para o momento. Parece que estou vendo; papai tocando rabeca, meu avô com um triângulo, um primo com um tambor tocavam a noite inteira. Só paravam pra tomar um café com pamonha, milho assado, enfim, era uma verdadeira festa. A família reunida, os vizinhos, amigos... Hoje nada disso. Ontem nem teve fogueira, assamos milho num fogareiro, só os de casa, nenhuma visita, até os familiares sumiram, cada um pra o seu lado. Nossas raízes estão desaparecendo, nossos costumes estão sendo engolidos pela tecnologia... Que pena! Aqueles bons tempos já não existem mais. Ao menos na literatura precisamos registrar, quem sabe alguém vai ler e entender que cada povo tem seu jeito próprio de ser e que essas pessoas eram felizes cada um a sua maneira. Quanta saudade!

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