quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A EXPRESSÃO LITERÁRIA DO ESCRITOR CIRO JOSÉ TAVARES - BRASILIA/DF

OS BONDES
PARTE I

Ainda bem pequeno eu acompanhava meu pai que, todos os domingos, levava flores ao túmulo de minha avó, no Cemitério do Alecrim. Morávamos na Avenida Deodoro, numa casa alugada a Palatnik. Ele mantinha uma vila de imóveis, concentrada numa grande área entre as Ruas General Osório, Ulisses Caldas e parte da Felipe Camarão. Eram todas assemelhadas, pintadas numa tonalidade ocre. Tempo em que a Avenida Deodoro era areia, grama, um longo canteiro, no centro, a dividi-la e com seus fícus-benjamins, espalhando sombras que amenizavam os dias estivais.
Saíamos andando para pegar o Bonde na Avenida rio Branco. Mas, ao retornar meu pai promovia um passeio agradável até Lagoa Seca, na Avenida Quinze, o final da linha. Era daí que partia na direção da Ribeira, cruzando a cidade, numa viagem demorada, divertida, animada na conversa sem segredos, o repetido toque da sineta acionada pelo motorneiro, a molecagem dos espertalhões que morcegavam estribos, para fugir do cobrador. Hoje não faço a menor ideia do tempo que gastávamos, da Praça Gentil Ferreira, no Alecrim, á Esplanada Silva Jardim, limite da Ribeira com as Rocas, onde víamos a secular tatajubeira, à sombra da qual, na infância, meu pai brincava com os filhos de D. Maria Farache, Joaquim Noronha, Adriano Rocha e outros de sangue canguleiro.

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